É
adequado percebermos o quanto a etimologia da palavra Sociologia nos revela o seu real conceito, e por meio disso, alcança
uma exposição de fragmentos conceituais expressos em obras de sociólogos como,
do pensador Émile Durkheim[1]. A
palavra Sociologia surgiu através da língua francesa (sociologie[2]),
palavra criada por Augusto Comte em 1830 a partir do Latim Socius, (que significa “companheiro”), unida com a palavra Logia, (da raiz legein, “falar” que assumiu o sentido de “estudo de”), em suma, o
pensador positivista, que já estava inserido em uma intensa observação sobre as
relações humanas sociais, criou um tempo que manifesta de maneira exata a
essência de seu conceito, conclusão, o consideração da palavra Sociologia se
resume ao estudo dos “companheiros”, isto é, uma análise que pertence às
ciências humanas que se preocupa em observar o comportamento humano, as
relações sociais, quando inserido em uma cultura coletividade.
É
muito conveniente analisar o conceito de sociologia no cotidiano contemporâneo,
atualmente as grandes sociedades globalizadas vivem em um ritmo coletivo
individualista, ou seja, a consciência de estar imerso em uma coletividade é
ausente, os sujeitos estão cada vez mais distantes do outro, distanciando as
possibilidades de trocas, de relações que são necessárias para uma cultura
coletiva. Existe uma música que fez muito sucesso recentemente, essa composição
foi não só exaltada pela mídia, mas também por muitas pessoas como se fosse um
tóten, a música ecoava intensamente o individualismo presente no cotidiano do
século XXI
através da seguinte frase, ado-a-ado, cada
um no seu quadrado![3], é
interessante percebermos que o enunciado individualista ganha força por meio do
desmembramento do prefixo da palavra quadrado (ado-a-ado). A afirmação “cada um no seu quadrado” remete ao conceito
de que, cada indivíduo deve se limitar em seu espaço, sem a chance de trocas,
de relações; lançando o que Durkheim titularia de solidariedade orgânica. Hoje a música caiu das paradas de sucesso,
mas ainda é possível escutar o seu refrão através da fala de muitas pessoas que
usam as expressões populares para diversificar a fala do cotidiano, em suma, o
refrão da musica se transformou em um bordão popular.
Resgatando
o significado etimológico da palavra sociologia, é transparente perceber o
quanto a sociedade atual demonstra manifestações curiosas, possíveis de, serem
analisadas por meio de conceitos, colocados pelo sociólogo Émile Durkheim, por
expor de modo preciso os fatores que explicam a organização social. A
organização social é explicada por Durkheim por meio do conceito Coesão (do Latim Cohesio, “adesão”, de
adharere, de ad-, “a”, ligar, grudar, colar)
Social, isto é, existe algo que mantém as pessoas unidas socialmente, essa
união social é explanada pelo sociólogo através da uma solidariedade social. A solidariedade social é responsável por
mediar à consciência individual isto é, a realidade subjetiva do sujeito (que
determina as vontades, a personalidade do sujeito, é através dessa consciência
individual que o sujeito vai fazer as escolhas do dia a dia) com a consciência
coletiva, (que passa a existir por meio das relações de consciência
individuais, pois concretamente esse sujeito não está sozinho) que é a
responsável pela criação de valores éticos, morais, regras sociais gerando um código
unificador através de elos que conciliam os pensamentos individuais, como a
educação que acaba sendo tombada na cultura coletiva, por exemplo, entre outros
fatores essenciais que seriam reverberados de geração a geração, então para Durkheim,
a solidariedade social é a própria coesão, e uma alteridade que mantém a
unidade social, em suma, é a solidariedade que liga socialmente os homens em um
terreiro sociocultural.
O
pensador e poeta Fernando Pessoa[4]
também refletiu sobre a organização social de Portugal, Pessoa era um grande
patriota português, produziu muitas obras literárias com o objetivo de
apresentar para aqueles que não conheciam o seu berço geográfico, o que de fato
era Portugal, e por meio de obras literárias, algumas assinadas por ele mesmo,
outras por seus heterônimos, Fernando Pessoa assentava a Língua como fenômeno importante
para uma organização social, pois existe uma linguagem interna do indivíduo,
que só ele tem acesso (o pensamento), mas que se torna um canal coesivo quando
essa linguagem é exteriorizada, criando relações, trocas e coordenações
sociais, em suma “a nação baseia-se na
comunidade do idioma, que é a base da vida social”[5]
A
base da sociabilidade, e portanto da relação permanente entre os indivíduos, é
a língua, e é a língua com tudo quanto traz em si e consigo que define e forma
a Nação. Estamos, neste mundo, divididos por natureza em sociedades secretas
diferentes, em que somos iniciados à nascença; e cada uma tem, no idioma que é
seu, a sua própria palavra de passe. (ROCHETA e MORÃO, 1979,
http://multipessoa.net/labirinto/portugal/12).
Em
suma, Émilie Durkheim expõem a solidariedade social, como foi apresentado aqui,
como elo que manter as consciências coletivamente unidas, mas existe outro
passo que apresenta como esse conceito se desdobra, na realidade teórica do
sociólogo existem duas vertentes de solidariedade social, uma é a Solidariedade
mecânica ou similitude e a outra é a solidariedade orgânica, brotando dentro do
processo da divisão do trabalho criado pelo sistema capitalista. A
Solidariedade mecânica está traduzida em atos que o sujeito se identifica por
meio da consciência coletiva por meio de comportamentos expressos por
comunidades políticas, religiosas, proporcionando um sentimento de bem estar
social, o indivíduo não está preocupado com a sua singularidade, ele está
focado na sua existência coletiva, nutrindo fortemente a coesão social da
cultura a qual está imerso.
Agora
a solidariedade orgânica elucida os motivos que produz manifestações, como exemplo
o conteúdo da música apresentada no inicio desta reflexão, a solidariedade orgânica expressa o
enfraquecimento das relações coletivas, isso ocorre por causa da grande escala
de trabalho exigida pelo sistema capitalista, cada homem é escalado para uma
função, e o interessante é perceber que um grupo estruturado em uma empresa,
por exemplo, não estão juntos porque escolheram por se sentirem iguais, mas
porque fazem parte do mesmo domínio social.
Vê-se em que consiste esta
solidariedade real: liga diretamente as coisas às pessoas, mas não as pessoas
entre si. A rigor, pode-se exercer um direito real acreditando-se sozinho no
mundo, fazendo abstração dos outros homens. Por conseguinte, como é somente por
intermédio de pessoas que as coisas são integradas na sociedade, a
solidariedade que resulta desta integração é completamente negativa. Ela não
faz com que as vontades se movam para fins comuns, mas apenas com que as coisas
gravitem em ordem ao redor das vontades. Porque os direitos reais são assim
delimitados, não entram em conflito; tenta-se evitar as hostilidades, mas não
há concurso ativo, não há “consensus”. Suponha-se um tal acordo tão perfeito
quanto possível; a sociedade em que ele reina – se reina sozinho – parecerá uma
intensa constelação onde cada astro se move em sua órbita sem perturbar os
movimentos dos astros vizinhos. Uma tal solidariedade não faz assim dos
elementos que ela aproxima um todo capaz de agir como um conjunto; não contribui
em nada para a unidade do corpo social. (DURKHEIM, 1978. p.
62).
Em suma, os dois tipos
de solidariedade, tanto a mecânica, quanto a orgânica possuem a função de
ligar, de unir os homens, criando uma coesão social, elas estão visivelmente
presentes em sociedades hoje, é atraente refletirmos como essa coesão se
manifesta em culturas diferentes das quais estamos habituados a nos relacionar,
como por exemplo, as culturas ameríndias; é certeza de que a solidariedade mecânica
seja mais presente do que a orgânica, pelo fato da situação geográfica a qual
estão inseridos, as tradições permeiam o conhecimento oral, as relações são
trocadas de geração a geração, hoje as grandes culturas civis possuem
documentos que lançam regras de condutas, com direitos a sanções caso seja
desobedecida, um desses documentos é a Declaração Universal dos Direitos
Humanos[6], que está presente
legalmente para manter a coesão harmoniosamente através de um sistema que
objetiva a permanência da harmonia e bem-estar social necessário para uma
organização sociocultural.
Tarsila do Amaral. Operários 1953.
[1] Um dos fundadores da Sociologia,
nascido em Épinal na França em 1858 e falecido em 1917 em Paris.
[2] Termo criado pelo fundador do
positivismo, o Frances Augusto Comte (1798-1857).
[3] Frase presente na letra da
música “Dança do Quadrado” da compositora brasileira Sharon Acioly.
[4] Poeta modernista Português
criador do neologismo “Heterônimo”, termo que se atribui a personagens
fictícios, também criados pelo Pessoa, onde cada personagem era possuidor de
uma biografia e produções filosóficas literárias, entre outros conhecidos, Bernardo
Soares e Alberto Caeiro.
[5]
Site MultiPessoa, consultado em 15 de Maio de 2012.
[6] Criada logo após a Segunda
Guerra Mundial, em 1948 pela Organização das Nações Unidas com o objetivo de
instaurar a Liberdade e a Igualdade sociocultural.
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