sábado, 25 de agosto de 2012

Relato de uma Viagem

        





  
 Santiago do Chile 
Santiago é uma cidade belamente frenética, a estrutura da capital é semelhante a nossa terrinha da garoa, repleto de catedrais, igrejas colossais escoltadas por antigas construções que se mistura com grandes edifícios futuristas. O que diferencia Santiago de São Paulo é a modesta organização e principalmente a quantidade de verde espalhado pela cidade, com certeza devido a grande quantidade de parques bem cuidados e graciosos. Suponho que esse verde que se mistura com a forte névoa (sem muita poluição) da cidade deixa as pessoas mais leves, educadas e principalmente próximas umas das outras, não que em São Paulo as pessoas não sejam próximas, mas sinto que o distanciamento causado pela correria frenética é inferior em Santiago do Chile (possui em torno de 5 milhões e meio de habitantes); eu gosto sempre de dizer o quanto é importante se perder por entre as ruas, cair no meio da multidão, porque é deste modo que conhecemos bem o movimento cultural e também sentimos o calor humano do lugar onde estamos conhecendo.
Eu fiquei na capital do Chile por apenas dez dias e percebi que é dificílimo desvendar os mistérios dessa cidade cercada pela cordilheira dos Andes em uma única viagem, mas impressões, alguns fragmentos de conhecimento permanecem; por meio disso eu resolvi tirar da minha bagagem de lembranças subjetivas trazidas de alguns lugares do Chile e compartilhar aqui, então, por favor, se você conhecer o Chile e perceber que as suas impressões foram diferentes das minhas, compartilhe comigo, pois sinto que cada pessoa sente a cidade, o lugar de modo diferente, mas com pitadas de similaridade. Eu passei, além de Santiago, alguns dos poucos dias que eu possuía em Valparaíso e Viña del Mar, contudo vou começar a compartilhar por Santiago por ter ser sido a minha principal porta de entrada do Chile.
Santiago, como já foi mencionado é uma cidade hermosa, a quantidade de centros culturais, parques e principalmente museus é extremamente numerosos, similar à cidade de São Paulo. Eu desembarquei no Aeroporto (Aeroporto Internacional Comodoro Arturo Merino Benitez) às 01h45 da madrugada, como a passagem estava bem em conta, eu resolvi optar por dormir no aeroporto e aguardar o ônibus que nos deixa exatamente no centro de Santiago, isto é, próxima às estações de Metrô e também ao terminal rodoviário que fica bem próximo à estação central de trem. A empresa de ônibus mais popular, que faz o trajeto Aeroporto-Santiago é o Centropuerto, a passagem custa por volta de CL$ 1,300[1] pesos (equivalente à RS 5,50) e a viagem dura em torno de 30 a 40 minutos; agora para os apressadinhos o serviço de táxi é bem interessante, assim que os passageiros saem da sala de desembarque surgem milhares de taxistas oferecendo o serviço com plaquetas anunciando o destino nas mãos; em Santiago o preço cobrado pelo serviço é bem justo, o taxímetro sempre começa marcando o valor de CL$ 250 pesos (equivalente R$ 1,05), a partir daí, a cada 200 metros é cobrado o valor de CL$ 100 pesos (equivalente a 0,42 centavos), contudo, é válido tomar um taxi no próprio aeroporto, se estiver acompanhado é melhor ainda, porque dividindo o valor sai muito mais em conta.
Chegando ao centro de Santiago, (depois de ter localizado seu hostel[2], se tranquilizar, etc.) é interessante fazer o pedido do cartão bip, que possui a mesma função do o nosso bilhete único, é necessário obtê-lo porque o pagamento de passagens só é possível por meio deste cartão eletrônico tanto no metrô quanto no ônibus, para adquirir o cartão bip é só chegar a um guichê do metrô e pedir por meio de uma recarga mínima de CL$ 300 pesos (R$ 1,25). Uma coisa é interessante saber, o valor da passagem do metrô é variável de acordo com o período do dia, em horário de pico o preço custa bem mais caro, para evitar a superlotação de passageiros, eu me transportei pouco de metrô e ônibus, andava mais a pé, mas para quem não gosta muito de longas caminhas (muito) é bom prestar atenção nisso, nos pontos de ônibus e nas estações de metrô existem avisos alertando sobre os horários e preços das passagens.
Plaza de Armas (Centro de Santiago, Estação Plaza de Armas do metrô) é um dos principais point’s de Santiago, tanto cultural quanto histórico, precisamente por ser o local onde a cidade foi fundada. Na praça é possível observar muitos artistas, (e astrônomos que cobram 300 pesos para observação dos astros) que expõem e vendem os seus trabalhos; na região também está a Catedral Metropolitana de Santiago e seus cachorros; é impressionante a quantidade de cachorro solto por toda a cidade, se fizer-lhes um carinho cuidado, terás um companheiro seguidor para todo sempre, só na catedral eu esbarrei com cinco cães (no Bairro Bellavista eu fiz um cafuné na cabeça de um cãozinho preto, ele me seguiu até Av. O’Higgins[3], eu já estava desesperado por não saber como me perder da vista do animal, rs); na Praza de Armas também estão localizados o edifício dos Correios e o Museo Histórico Nacional, o acervo desse museu é muito atraente porque narra à história da formação de Santiago e também do Chile, o acervo é enorme. Bem ao lado do Museo Histórico Nacional existe um ponto de informação turística, é conveniente passar por lá e pedir algumas informações, dicas seguras e principalmente um mapa não só de Santiago, mas também de cidades vizinhas, caso seja do interesse conhecer as cercanias. Nas ruas em direção à Santa Ana (metrô) estão, o Ex-Congresso, Tribunais de Justiça e o Museo Precolombino (todos estavam fechados para reforma e vistoria por causa do terremoto de 2010).
Umas das passagens que cutucou a minha atenção em Santiago foi a formosura dos Paseos[4] da cidade repletos de lojas, árvores com galhos e folhas secas, banheiros públicos (cobrado para utilização por volta de CL$ 300 pesos) e principalmente a quantidade de pessoas de diferentes lugares, os Paseos mais conhecidos são: Compañia de Jesus, Huerfanos e o Paseo Ahumada, nesta última existe uma sorveteria chamada Bravíssimo, vale a pena conhecer e degustar os sorvetes de frutos da região. Bom, ainda no Paseo Ahumada, seguindo ela até o fim chega-se Av. O’Higgins, ali é possível ver a Universidade de Chile (do outro lado da Av., um grande edifício amarelado), virando e seguindo à direita localizamos o Palácio La Moneda[5] e no mesmo lugar, no piso subterrâneo está situado o Centro Cultural La Moneda, onde existem várias exposições e lojinhas de souvenires, ao lado do Palácio está à iluminada Torre da Entel, ah! Antes que eu me esqueça, ao lado da Torre existe uma feirinha de artesanato regional e rippie, comprei muitas cositas ali com preço bem justo.
Seguindo mais adiante (dá para seguir de metrô, mas indo a pé suponho que seja bem mais interessante porque o conhecimento vai se enriquecendo) na Avenida da Torre da Entel (av. O’Higgins) encontramos o terminal e a estação Los Heroes, é neste terminal que partem os ônibus rumo ao aeroporto, seguindo ainda mais adiante, próximo a estação república do metrô existem vários barzinhos com arquiteturas bem diferentes, eu não entrei em nenhuma, apenas passei em frente e fiquei observando o movimento, mas acredito que seja muito interessante conhecer, seguindo bem, mas bem mais adiante está a Estação Central[6] onde está situado o terminal de ônibus San Borja, ali perto, mais precisamente próximo a estação do metrô Universidade de Santiago existe outro terminal rodoviário, o Terminal Alameda de onde partem ônibus para todas as regiões do Chile, foi neste terminal que eu peguei um ônibus rumo a Valparaíso e Viña del Mar, ele é bem referencial em Santiago.
Agora voltando à saída do Paseo Ahumada, virando e seguindo à esquerda, do outro lado da av. está localizado a simbólica Iglesia de San Francisco e ao lado dela está o Museo Colonial (que pra mim é um Museu de Arte Sacra, porque o acervo é constituído de imagens e pinturas sacras, a maioria produzida por artistas chilenos). Atrás do Museo Colonial, existe uma rua fantástica, a rua chama-se Londres que é o caminho de entrada para o Barrio Paris Londres, a região é simplesmente fabulosa, muy hermosa, no começo da rua existe um Memorial localizado no nº 38, em suma a casa chama-se “Londres 38” onde cuja residência foi ponto de tortura e execução no período chileno (por volta de 1973), a casa é pequena, mas eu fiquei um bom tempo ali, lendo e refletindo sobre alguns problemas sociais e direitos humanos, enfim, é muito conveniente conhecer.
Voltando para Av. O’Higgins, seguindo à diante (é possível já notar de longe) está o Cerro Santa Lucía, esse lugar é incrivelmente mágico e misterioso, a sensação é diferente, não consigo explicar aqui por meio de palavras, mas acredite, é diferentemente mágico e encantador. O Cerro está situado bem próximo a Estação do metrô Santa Lucía, eu recomendo que se visite o Cerro no período da tarde (a partir das 15h30), porque o pôr do sol (que se inicia por volta das 17h30) tempera a vista de Santiago, deixando-a incrivelmente admirável, a Cordilheira dos Andes e o tapete de concreto formado pelos edifícios que vemos do mirante (ponto mais alto do Cerro) ficam banhadas por uma cor bem alaranjada, as Cordilheiras mudam de tom diante dos nossos olhos, em um passe mágico, é incrivelmente encantador, fora que durante a subida existem vários pontos interessantes de se contemplar. No entorno do Cerro (ao lado do metrô) está localizada a Biblioteca Nacional de Santiago, é atraente entrar não só para conhecer o seu interior, mas também ver as exposições temporárias que ficam expostas durante algum tempo, existem profissionais que conduzem uma visita, caso seja necessário, pois em algumas áreas da Biblioteca Nacional só é permitida entrar com um acompanhante da casa.
Eu suponho que no Cerro de Santa Lucía é ponto final (ou não) de marchas de protestos, eu consegui presenciar uma das manifestações de estudantes da Universidade de Chile, eles começaram ali na região e seguiram a calle Miraflores. Do outro lado da Av. O’Higgins, em frente ao Cerro tem outra feira de artesanato, essa possui maior variedade de preços e de artigos artesanais, fora que é um dos pontos de passagem de muitos turistas, por estar perto do Cerro, da estação do Metrô e dentre outros pontos culturais da região.
Continuando o percurso sentido Av. O’Higgins, está a Universidade Católica de Santiago (a PUC de lá), é interessante entrar e consultar a programação cultural porque é possível encontrar não só filmes interessantes, mas palestras que podem enriquecer o conhecimento acadêmico, só tem um probleminha chato, a universidade não aceita carteira de estudantes estrangeiros (vale a pena consultar a programação pelo site antes da viagem), isto é, o valor da entrada para qualquer evento é integral. Mais um pouco à frente, do outro lado da Av. existe uma lojinha de objetos artesanais e cositas bem interessantes do Chile, mas é um pouco caro, mais à frente está o Centro Cultural Gabriela Ministral, esse lugar é fantástico, ele possui um teto superinteressante, parece que encubaram o arco-íris e revestiram o teto do espaço, pois ele é um grande mosaico todo colorido que fica irradiante com a passagem dos raios de sol; lá também existem várias exposições, eu consegui ver uma mostra bem interessante sobre o Walter Benjamin, a entrada é livre.
Ali no entorno do Centro Cultural Gabriela Ministral existe uma ruazinha muito graciosa chamada Lastarria que dá no Bairro Lastarria, nesta rua existem vários barzinhos, feirinhas e lojinhas retros (bem caras), mas vale muito a pena se perder por ali e observar as fachadas das lojas e dos barzinhos, são todos bem criativos em estilo europeu, as plantas vestem quase que todos os telhados e fachadas, incríveis. Saindo desse pequeno bairro. Logo no final da rua está o Parque[7] Forestal (metrô Baquedano), esse parque é incrivelmente atraente, o que despertou a minha atenção foi à quantidade de casinhas para os cachorros que vivem nas ruas de Santiago, as moradas dos caninos ficam espalhadas pelo parque, é claro perceber que a cultura existente na cidade de preocupar-se com os cães de rua é completamente diferente de outros grandes centros, em Santiago eles são alimentados com ração apropriada (assim percebi não só no parque, mas também em algumas fachadas de comércio), ganham roupas por causa do intenso frio e tem direito à moradia, recebendo casas em parques e praças, uma coisa curiosa é que a maioria dos cachorros da cidade é de raça pura ou mestiça (labrador, Rask Siberiano, Collie, entre outros).
Caso tenha pique de caminhar e contemplar o parque até o final chegará ao Mercado Central de Santiago[8] (confesso que não curti muito, pois é um pouco transtornado, entrei e me senti constrangido, parecia que eu estava atrapalhando, pois as pessoas (a maioria turistas) entram para comer, a locomoção é bem limitada e os garçons saem atropelando todos que estão por perto por conta da correria). Logo ao lado do Mercado Central está o famoso bar La Piojera, muitos entram nesse bar a fim de provar as bebidas típicas do Chile, o Terremoto e Chicha, eu não entrei para conhecer, bom, nas proximidades está o Centro Cultural Mapocho, antiga estação ferroviária Mapocho, seguindo pela ponte do Rio Mapocho está o Bairro Patronato (estação do metrô Patronato), o bairro é bem agitado, eu confesso que não gostei muito, pois achei um pouco sujo visualmente falando, o ambiente lembra muito o nosso bairro do Brás (não por causa da poluição visual), devido a grande quantidade e variedade de comércio de roupas e calçados, o preço é muito, mas muito em conta mesmo! Voltando ao Parque Forestal, ele também está perto da estação Bellas Artes do metrô, onde está centrado o Museo de Bellas Artes e o MAC (ambos situados no mesmo edifício).
O Famoso bairro Bellavista está bem próximo ao Parque Forestal, é só atravessar umas das lindas pontes em estrutura de ferro do Rio Mapocho (principal rio da cidade, considerado a espinha dorsal de Santiago) e se perder do outro lado. Para quem gosta de bares e conhecer gente nova esse é o lugar, eu resolvi ficar vagando por ali e fotografar algumas fachadas dos bares, casas e ruas; é gostoso se perder por ali, o bairro é bem tranquilo e gostoso de admirar, existem alguns hostels também. É interessante ir prestando atenção nas placas (pois o Cerro San Cristobal está por ali), porque as ruas parecem um labirinto por causa da quantidade de cruzamento. O Cerro San Cristobal é fabuloso, no topo do cerro contém a grande imagem de La Virgem Maria, em seu interior está o gracioso Santuário da Imaculada Conceição. Existe a opção de subir a pé (9 km) ou de Funicular, o preço da boleta de entrada é $1.800 (ida e volta é = $3,600), eu comprei uma só porque resolvi subir de Funicular e descer a pé os 9 km, é atraente descer a pé porque durante a descida encontramos uma incrível vista da cidade de Santiago e principalmente da Cordilheira dos Andes, e, além disso, existem vários parques, bosques e espaços culturais que fazem parte do Parque Metropolitano de Santiago e funcionam como ponto de parada para descanso e contemplação.
O Rio Mapocho que divide Santiago do Bairro Bellavista, é muito atraente observá-lo à noite porque a iluminação presente ao longo de sua extensão e também em suas pontes o deixa ainda mais belo, eu consegui ver o trabalho do Museo Arte de Luz que expõem projeções de grafites que revelam não só sobre um pouco sobre a história do país, mas também sobre direitos humanos, todas as imagens são projetadas sobre as águas poluída do Rio Mapocho.
O Barrio Yungay está bem próximo à estação do metrô Quinta Normal e também próximo ao bairro Brasil (é muito hermoso, com vários casarões, palmeiras, entre outros atrativos), é um ambiente bem diferente, talvez por causa da tranquilidade, as construções coloniais que também se misturam com arquiteturas em estilo europeu e até norte americano, expondo toques de modernidade. Eu saí do centro de Santiago (Plaza de Armas) rumo ao Barrio Yungay a pé, seguindo pela Rua Catedral chega-se no Museo de La Memória e Derechos Humanos que expõe uma importante reflexão não só sobre a condição humana, mas igualmente sobre a dignidade do homem, se baseando na Declaração Universal dos Direitos Humanos, logo em sua entrada estão expostas as Leis que formal a declaração criada pela ONU em 1948, realmente este lugar é incrível, seu acervo também é enorme. Ali por perto está o Museo de La Educación, na Rua Compañía de Jesus com a Chacabuco, este eu não consegui visitar por causa do horário de funcionamento.
A Comida não aguçou muito o meu apetite, pois confesso que também como com os olhos, o tradicional chorrillana eu nem cheguei a experimentar, esse prato é uma enorme porção de batatas fritas, carnes e dois grandes ovos fritos em cima, o visual não me aguçou, eu me alimentei muito de pratos vegetarianos e principalmente de frutos do mar, por fazer parte da mesa cotidiana dos chilenos, come-se muito bem em Santiago, pagando pouco (no maximo CL$2000 pesos). Quanto aos temperos eu percebi que eles usam muito o coentro e principalmente pimenta, como eu gosto dos temperos não tive problema nenhum. Ah! Outra iguaria que eu sempre devorava eram as empanadas, é uma delicia, a massa é leve e muito gostosa, os sabores variam, eu sempre comia de queijo ou pino (tomates e frutos do mar), com vinho então, fica melhor ainda.
Villa Grimaldi[9] é lugar bem agradável, possui uma linda paisagem e para aperfeiçoar a atração do lugar, o parque possui uma sensação carregada de mistério, melancolia e principalmente de vazio. Por volta de 1974 a Villa era o principal e desumano centro secreto de tortura e execução de presos políticos dentre homens e mulheres (uma delas estava grávida), em cada ambiente do espaço está disponível parte da história que essas pessoas vivenciaram ali na época, é uma espécie de memorial que decifra a degradação dos direitos humanos causado pelo sistema político do período; em 2004 o espaço foi tombado como Monumento Histórico. O Parque está situado em Santiago no Barrio Peñalolén, a minha chegada ao lugar foi cansativamente intensa porque eu resolvi pegar o metrô no centro (é bom ter o mapa porque existem algumas transferências em linhas distintas por cores, como em São Paulo) e descer na estação Plaza Egaña, que está pertinho da Av. José Arrieta e ir caminhando até a Villa Grimaldi, no total foram 3,6 km acompanhados de um intenso calor e uma admirável vista da Cordilheira dos Andes; para quem deseja fugir da caminhada o trajeto pode ser feito de ônibus (linhas 513 ou D09, o ponto fica bem de frente a Villa) ou de taxi. 
Bom, eu não curto shoppings, mas lá em Santiago existe um bem famoso, o Shopping Parque Arauco situado no Barrio Las Condes, próximo ao metrô Escuela Militar, eu percebi que a região é bem voltada ao público com mais grana, porque o lugar é repleto de grandes lojas, restaurantes e baladas bem mais caras, enfim, eu fui até a região para negociar com uma agência a possibilidade de conhecer e sentir de perto a Cordilheira dos Andes. A agência Skitotal me cobrou $37.000 (achei bem caro) pesos para passar o dia em alguns centros de Ski, Valle Nevado, El Colorado / Farellones.
O Valle Nevado, considerado o maior de todas as outras estações de esqui, é friamente encantador, lindo mesmo, eu fiquei horas e horas contemplando as montanhas cobertas de gelo, me divertindo sozinho, eu me senti como um pequeno inseto pousado em um gigante bolo gelado com cobertura de chantilly. A subida é uma intensa terapia visual, conforme o carro vai subindo, torneando as montanhas, os nossos olhos ficam estáticos com a quantidade de riachos, diferentes tipos e estruturas de casas, cactos, rochedos naturalmente esculpidos, nuvens e grandes blocos de gelo pousados no chão, a atura da cordilheira atinge cerca de 3000 metros em nível do mar, é bem alta. O que decepciona um pouco em Valle Nevado é a quantidade de hotéis, restaurantes e construções em andamento que tumultuam o ambiente, as construções são belas, mas não superam a beleza das montanhas dos Andes banhadas de gelos com pitadas de raios do sol. Outra coisa que desaponta profundamente é o alto preço das refeições, em Farellones paguei por uma deliciosa tigelinha de sopa de frutos do mar com tomates secos exatamente $9000 pesos, o total ad refeição atingiu $15000 pesos por causa de uma garrafinha de água e um copo de suco de laranja, sendo que, no centro de Santiago com $3000 pesos come-se muito, mas muito bem, com direito a petiscos que acompanham o prato e um copo de suco de laranja (em alguns lugares eu recebi uns agradinhos por ser Brasileiro, rs). Em El Colorado eu percebi que a concentrarão de chilenos é maior por ser um local onde existem muitos moradores e casas disponíveis para aluguel em altas temporadas, lá eu consegui ver a fraquinha chuva de neve, foi bem interessante observar a estrutura que eles fazem para driblar o perigo de acidentes causado pela neve e também pelo frio.
Valparaíso é um ambiente sereno e admirável, incrivelmente movimentado por metrôs, trolleybuses (trólebus), vendedores de iguarias, tudo constituído de paisagens naturais, belos grafites, mar, e muitas cores que escoam pelas grandes montanhas por meio das numerosas casinhas assentadas no local. De Santiago (Terminal Alameda – Estação Universidade de Santiago do Metrô) até Valparaiso pela empresa de ônibus Tur-Bus a passagem custa em torno de C$2.400 pesos, a viagem dura em torno de 2 horas e o trajeto além de tranquilo é visualmente atraente, pois a quantidade de pés de uva e fábricas de vinho é numerosa, realmente chama atenção. O Terminal de Valparaíso (Terminal de Valpa) está situado no centro, é gostoso caminhar bastante pela região (mas é uma região bem estranha, um pouco poluída visualmente e bem agirada) para conhecer o porto de perto, e as grandes construções espalhadas pela pequena cidade. Como o lugar é constituído de grandes morros, existe um Funicular “grafitadamente” colorido que transporta as pessoas oferecendo uma incrível vista da cidade, mar e principalmente das casinhas coloridas até a parte alta da cidade. Desembarcando do bonde, cai-se em uma singela praça com coretos e muitos bancos de frente para a colorida vista de Valparaíso, logo ao lado está o Museo Naval e Marítimo (estava fechado), mas o gostoso é andar pela cidade, se embocar por entre os becos e contemplar as construções, o movimento da cidade e curtir as carícias dos cachorros de rua que nos recepcionam em muitas vias de Valparaíso.
A quantidade de Museos também é grande, não foi possível visitar muitos por causa do tempo, mas eu consegui chegar até ao topo da montanha e conhecer a graciosa Casa-Museo do poeta Pablo Neruda[10], este espaço é incrivelmente belo, ele possui uma mega vista privilegiada do Oceano Pacifico (não é a toa que o poeta escolheu o lugar para conseguir mais inspiração), cada parte da casa tem um pedacinho do poeta, nesse museu eu consegui pagar meia; nele não é permitido fotografia em nenhum ambiente da casa, somente na área externa, mas as lembranças são prova de que o registro subjetivo supera o registro feito através da câmera fotográfica, pois podemos acessá-la em qualquer lugar e qualquer momento, até em sonhos. No entorno da Casa do Pablo Neruda existem algumas casinhas (residenciais; então cuidado ao fotografar) lindas de observar, na região também estão assentados as estátuas dos Poetas chilenos, Pablo Neruda e Vicente Huidobro. Eu não almocei no local, deixei para comer em Viña del Mar, mas eu percebi que existem muitos bares e restaurantes em várias partes da cidade, existe um lugarzinho que muitas pessoas paravam para almoçar, o restaurante Bijoux RestoBar (rua Abtao, entre as ruas Concepción e Templeman).
Viña del Mar fica ao lado de Valparaíso, é um ambiente cheio de museus, parques, castelos e praias. Para chegar à Viña del Mar (de Valparaíso) existem algumas opções (ônibus, metrô, taxi, entre outros) práticas que não impedem de chegar  à cidade dos vinhedos. Chegando a Vinã Del Mar somos inicialmente recepcionados pelo cintilante Mar, por esse motivo a Praia Reñaca (outro litoral famoso de Viña del Mar é a Praia Concón) foi o meu primeiro ponto de parada, fiquei umas três horas andando e admirando o mar, o sol, as rochas e os grossos grãos de areia e principalmente os gritos dos pelicanos que saiam em disparada sempre que eu me aproximava, e claro, não faltou o pequeno ritual e um importante mergulho (somente os pés) no Oceano Pacifico. Como os restaurantes que margeiam a praia são voltados para turistas, eu resolvi me saciar em um “saudável” fast-food para fugir dos altos preços.
Saindo da região praiana fui direto para o Museo Fonck, o acervo apresenta por meio de peças arqueológicas e etnográficas as múltiplas etnias que habitaram o Chile, ao lado do Museo Folck está o Palácio Carrasco construído em estilo francês, atual Centro Cultural, Biblioteca Benjamín Vicuña Mackenna e o Arquivo Histórico de Viña del Mar, fora que a rua Libertad é encantadora, nas calçadas existem fileiras de árvores plantadas com troncos fabulosos, formando uma agradável paisagem terapêutica. Para voltar a Santiago é só pegar um ônibus que deixa em frente ao Terminal Rodoviário de Viña Del Mar (O terminal de ônibus fica de frente ao Shopping de Viña del Mar, eu tive que entrar nesse shopping para utilizar o banheiro, porque nos terminais rodoviários cobra-se $200 pesos para utilização), o retorno é muito tranquilo, as paisagens repletas mar, árvores, plantações e pôr do sol (dependendo do horário, é claro) são ainda mais belas e funcionam como um importante descanso.
Este breve relato traduz parte das minhas sensações, impressões e pontos de vista adquiridos em um curto, mas grandioso período em que estive acolhido por Santiago do Chile, realmente é um mundo que deve ser visitado novamente, pois em uma única passagem não é possível desvendar parte dos mistérios e encantos que ela esconde por entre a Cordilheira dos Andes. É atraente sempre ter em mente que os países que nos cercam são os nossos vizinhos, nossos hermanos geográfico, portanto é importante, sempre que possível fazer algumas visitas, para não só manter a política da boa vizinhança, mas reforçar as trocas culturais e principalmente romper com o estereótipo que existe atualmente, ou seja, que nós (brasileiros) não fazemos parte do grupo de latinos sul’americanos, talvez por existir uma língua distinta que nos “separa”.




[1] A moeda chilena é bem diferente da moeda brasileira por causa da quantidade de zeros, mas no final das contas o custo é equiparado ao real de SP. Uma colega me ensinou fazer um calculo interessante “O cálculo arredondado é fazer o valor em pesos vezes 4, menos três zeros no fim, aí dá o correspondente em reais. Por exemplo, um hostel por 10.000 pesos vale mais ou menos 40 reais”.
[2] Eu fiquei no Hostel Plaza de Armas (http://www.plazadearmashostel.com/), é um pouco caro porque fica localizado na Plaza de Armas, bem do lado do metrô, acesse o site e compare os preços.
[3] Percorrendo toda essa avenida a pé se conhece muitos pontos importantes de Santiago, pois é a principal avenida da cidade.
[4] Os Paseos parecem grande calçadões, na verdade é, mas cuidado, porque existem ruas que cortam os Paseos, a sinalização é tão discreta que mal da para perceber, então fique atento as faixas e aos faróis.
[5] O que chama atenção no Palácio La Moneda de vários turistas é a tradicional cerimônia feita pelos carabineiros, é uma espécie de troca de guarda presencial repleto de música, troca de marchas milimétrica e desfile na avenida, A troca da guarda ocorre a cada dois dias, pontualmente às 10 horas da manhã. É bom que você confirme a data exata da troca antes de acordar cedo e ficar esperando na frente do La Moneda, e acabar não vendo nada.
[6] Nela possui algumas agencias que fazem passeios turísticos. A sua estrutura de foi construída com a mesma da Torre Eiffel e lembra um pouco a antiga Estação ferroviária Mapocho, atual Centro Cultural Mapocho.
[7] E por falar em Parque, eu fiquei horas, sentado na Plaza Bicentenário, o chafariz de lá é bem grande e possui uma iluminação fantástica, fora que o lugar é ponto de concentração de adolescentes que saem da escola e ficam por ali, esse Plaza está situada na estação Salvador do metrô.
[8] Estação Puente Cal y Canto do Metrô.
[9] É um dos poucos espaços de visitação que está aberto às Segundas-feiras (De Segunda a domingo, das 10h às 18h), porque a maioria dos museus funciona de terça a sexta, igual em SP.
[10] O Serviço Educativo disponibiliza áudio-guia para estrangeiros em Inglês, Português e Francês, para adquirir é só pedir, deixando um documento da recepção, o áudio vai mediando as informações sobre o acervo em todos os cômodos da casa.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Miniconto sobre a Brevidade da Vida

As Cortinas da Vida Real

As pálpebras são como cortinas aveludadas de um glorioso teatro, se abrem no inicio do dia, para apresentar mais uma encenação da vida real, singularmente protagonizado por aquele que vê, os outros são apenas figurantes que compõem a trama existencial.
No final da noite elas se fecham, finalizando silenciosamente o enredo do dia-a-dia, e, recebendo os saudosos e interiores aplausos, manifestados pelo descanso juntamente com o tão esperado, sono profundo.

Foto de Mariana Reis: Teatro Municipal de Ouro Preto.

Este miniconto apresenta um ponto de vista que serviu de assunto para algumas obras literárias e também dramatúrgicas no século XVII, então, eu resolvi reunir dois trechos que lançam o conceito de "Vida é um Teatro", lembrando sobre a brevidade da vida.

 Citações das peças Como Gostais e Macbeth de William Shakespeare:

O Mundo é um palco, e homens e mulheres, não mais que meros atores. Entram e saem de cena e durante a sua vida não fazem mais do que desempenhar alguns papéis. Como Gostais.

A vida é uma sombra errante;
Um Pobre comediante, que se pavoneia
No breve instante que lhe reserva a cena,
Para depois não ser mais ouvido.
É um conto de fadas, que nada significa,
Narrado por um idiota, cheio de voz e fúria. Macbeth

Referencia Bibliográfica: GAARDER, de Jostein. O Mundo de Sofia: romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. - São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Sugestão de Animação: A Profecia dos Sapos


É muito conveniente não só comentar, mas também refletir sobre a necessária permanência da consciência do indivíduo imerso em uma plataforma sociocultural, ou seja, refletir sobre a condição do homem que vive em uma existência coletiva que se relaciona e consegue manter-se em uma coesão social. É notório que o sujeito da contemporaneidade não consegue abrir espaço em sua consciência cotidiana não só para refletir, mas também trocar e se relacionar com o outro sobre os direitos que cada um possui. Cada homem possui em si a condição de liberdade, mas é interessante observar o modo e de que forma, a liberdade é mediada dentro da sociedade que os mantém coesivamente em um espaço sociocultural, o professor e Sílvio Gallo refletiu sobre essa temática e comenta que no;

No exercício da liberdade, cada um de nós se relaciona com outros indivíduos e dessas relações emerge a realidade social. Chamamos sociais nossas relações com os outros no mundo. A sociedade é uma construção histórica pautada numa lei fundamental: é proibido matar o semelhante. (Gallo, 2002, p. 56).

Em suma, toda sociedade é formada por homens que, estão imersos em uma tradição cultural que se distingui das outras comunidades socioculturais, hoje é visivelmente perceptível à multiplicidade de nações e identidades culturais distintas, e por meio disso, fica claro a necessidade de um contrato social para manter essas nações multiplamente reunidas em harmonia através de um bem-estar. Conclusão, a tarefa da civilização é humanizar esse animal racional chamado homem[1]que se encontra imerso em uma plataforma em conjunto.
É por este motivo que, essa sucinta pesquisa tem por objetivo lançar uma concisa reflexão sobre a necessidade de documentos sociais que difundem por meio de um decreto oficial, direitos destinados para cada homem, não só com a finalidade de conceder a cada sujeito o direito de liberdade e dignidade social, mas também de difundir uma organização social, alcançado pelo iluminista Jean-Jacques Rousseau por meio da obra Contrato Social publicada em 1972. Existe um filme que expõe fantasticamente o conceito teorizado por Rousseau, a consideração do Contrato Social é discretamente exibida no longa-metragem do francês Jacques-Rémy Girerd[2], o longa-metragem é uma releitura do conto sobre a Arca de Noé; assim como no célebre conto de Noé, o filme exibe uma profetização de um intenso dilúvio, mas proferido por sapos, graças aos anfíbios, muitas espécies de animais são salvas por uma família, composta por um avô francês de etnia branca, uma mulher africana e duas crianças.
O admirável no longa-metragem é perceber como as várias espécies de animais são mantidas dento de um único espaço, carnívoros entre herbívoros e humanos de etnias diversas durante o período do dilúvio, quarenta dias e quarenta noites; durante a estádia os animais entram em conflito, os leões querem comer as galinhas, resultando em intenso conflito, por causa desse acontecimento o personagem mais velho, o avô, resolve decretar uma lei que, enquanto durar o dilúvio proíbe qualquer animal de comer o outro, durante o período todos terão com se alimentarem unicamente de batatas, sendo o único alimento salvo antes da chegada da forte e inundante tempestade. Em suma, a criação de uma lei que permita a condição de vida para cada ser daquele espaço, é uma espécie de contrato social que todos consentem, para viverem em harmonia e bem estar social, durante o enredo é interessante perceber que muitas regras entram em conflito por causa do próprio sistema social criado no espaço onde todos estão assentados, e, para intensificar ainda mais a situação, o grupo recebe uma personagem que usa de sua liberdade e soberania, engrossando os conflitos sociais; esse acontecimento não é surpreendente para Rousseau, pois “a passagem do estado da natureza ao estado civil produz, no homem, uma alteração notável, já que substitui o instinto pela justiça, dando à sua conduta a moralidade que antes lhe faltava”. (Rousseau, 2002, p. 9).
Através dessa exposição, é significante percebermos o quando somos mediados por regras, por leis que fixam não só o que devemos fazer, mas também o que podemos fazer, quando um sistema decreta limites, regras, leis que devem ser cumpridos para a instauração do bem-estar social, mesmo instaurando o livre arbítrio de cada cidadão; é interessante perceber que muitos atributos impressos na condição de liberdade que o homem carrega são intercedidos, uma dessas interferências, entre outras, é o ato de matar e cometer grandes injustiças, é justamente por esse motivo que Rousseau lança em alguns de seus conceitos a seguinte afirmação; 

O homem é por natureza, bom; é a sociedade que o corrompe; quer dizer: a sociedade não é, por essência, corrupta, mas somente certo tipo de sociedade, isto é, aquela que repousa na afirmação da desigualdade natural dos homens, oprimindo a maioria em proveito de uma minoria privilegiada. (Japiassú e Marcondes, 2006, p. 243).

Através dessa citação, fica claro o pensamento de Rousseau com relação à sociedade, isto é, o “o homem é por natureza, bom”, é o sistema social que o induz a tal ato que coloca o sistema social em desordem, degenerando o bem-estar social, isso se dá por meio de grandes diferenças sociais, exploração, miséria, opressão, entre outras ações socialmente negativas que excluem as necessidades essenciais de um determinado sujeito, o induzindo a intensos atos de sobrevivência. É por essa questão que em 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas, logo após a grande Segunda Guerra Mundial adotou a Declaração Universal dos Direito do Homem, com o objetivo de lançar mundialmente essa declaração assentando em todas as nações o exercício dos direitos que cada sujeito possui, permitindo que a harmonia e o bem-estar social fossem permanentes, através desse decreto, que deveria está presente permanentemente não só na consciência, mas também nos atos práticos de cada homem, de cada ser integrante de uma cultural social, a proclamação criada para a declaração Universal dos Direitos Humanos afirma o seguinte:

Proclama a presente Declaração Universal dos Direitos do Homem como o ideal comum a atingir por todos os povos de todas as nações, a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efeitos tanto entre as populações dos próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição. (Imprensa Oficial de São Paulo, 2010. p. 553).

Observando a citação acima, proclamada pela Assembleia Geral, é possível identificar o autêntico objetivo desse documento universal, em suma o ideal, sob a perspectiva Rousseana, é de lançar um contrato social que seja universal, que assente uma mediação igualitária nas relações humanas, mediando à liberdade, os direitos, culturais, a preservação de tradições e principalmente a exaltação social de cada sujeito imerso em uma cultural social, pois é somente através dessa forma que cada homem conseguirá atingir a sua condição natural, isto é, viver coletivamente em harmonia e bem-estar. Entre outros artigos decretados na cartilha da declaração, o item 2º elucida explicitamente um dos direito universais que cada homem possui; 
Art.2º I) Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
II) Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. (Idem, p. 534).

 Em suma, por meio desse artigo segundo, fica muito evidente a restauração proposto no contrato Social de Rousseau, o alvo é estabelecer uma lei universal que diminua as desigualdades entre os homens, os conflitos que são criados através do conceito de propriedade, após o arbítrio da instituição presente na vida social, para instaurar a harmonia e o bem-estar social que se aproxime do estado de natureza do homem, por que:
o que o homem perde pelo contrato social, é a sua liberdade natural e um direito ilimitado a tudo que o tenta e que pode atingir; o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo que possui. Para não se enganar nessas compensações, é preciso distinguir muito bem a liberdade natural, que não tem por limites senão as forças do indivíduo, da liberdade civil, que é limitada pela vontade geral, e da posse, que não passa do efeito da força ou do direito do primeiro ocupante, da propriedade que não pode ser fundada senão num título positivo. (Rousseau, 202 p. 37).

Então, a mediação dessa liberdade é condicionada através do comando criado em 1988, poucos anos mais tarde da intensa Ditadura Militar, a Constituição da república Federativa Brasileira do Brasil, o objetivo da constituição não era só conceder os direitos e garantias fundamentais para a organização social repleto de harmonia e bem-estar, mas era também conceder a restauração do direito democrático no contexto político, inclusive, a Constituição sagrou o direito de votos para os cargos que o constituinte elege um representante político, entre outro como os cargos de Presidente da Republica, Governador do Estado e Vereador. O Artigo 5º[3] expõe visivelmente (entre outros artigos) uma série de direitos e fianças que asseguram as declarações básicas para a organização social brasileira, assim também no preâmbulo, presente na seguinte citação:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado e assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na orem interna e internacional, com a solução pacifica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (Idem, p. 29).

Para concluir essa breve exposição escrita, é conveniente rematarmos com a reflexão sobre a importância da Educação como elo fundamental para nutrir cada vez mais a consciência de cada sujeito sobre os seus direitos e igualdades sociais que cada um possui, para o pensador e iluminista Rousseau, a educação é o principal instrumento para a conscientização e formação de cada sujeito imerso em uma plataforma sociocultural, é através da educação que o homem alcançará uma existência plena e necessária para a permanência da harmonia e do bem-estar social. Hoje, é admissível levar a discussão sobre esses conceitos para a sala de aula, sendo que, há algum tempo se encontravam exclusas da grade curricular da rede do ensino médio, o decreto Nº 11.684, de 2 de junho de 2008 que altera o art. Da Lei nº 9.394, de dezembro de 1996, abre um precioso espaço na grade curricular para as aulas de Filosofia e Sociologia no sistema de ensino médio, permitindo que professores levem esses conceitos e reflexões para dentro da sala de aula, e, além disso, não só lançando a consciência de cada aluno, mas também sensibilizando o mesmo para uma relação social mais sensível e presente no dia a dia de cada um.
Atualmente, os paredões e divisórias internos da Estação da Luz de São Paulo nos revelam uma bela exposição de azulejos que exibem através de imagens, palavras e frases criadas por alunos da rede estadual do ensino médio a exaltação de alguns dos artigos da Declaração dos Direitos Humanos, as produções são resultados finais do projeto "Inscrever os Direitos Humanos na Estação Luz do Metrô" que conta com uma discussão reflexiva sobre os direitos humanos a partir da Declaração dentro da Sala de aula com o auxílio de professores de Filosofia e Sociologia, e após o processo de discussão e relações feitas em museus e espaços sociais, os alunos são convidados a participarem de uma oficina para a produção das imagens, palavras, entre outras linguagens que sintetizem alguns dos artigos presente na cartilha, o atraente é perceber que os azulejos ficam expostos em um ambiente que transitam em média de 600 mil passageiros[4] que de algum modo se relacionam com o trabalho produzido pelos adolescentes.
A ideia original desse atraente projeto é da artista belga Françoise Schein que plantou essa ideia artística em várias cidades do mundo, entre outras, Rio de Janeiro, no morro do Vidigal. Em suma, competem aos professores, pais e educadores a plantarem uma importante semente repleta de ética, respeito e bem-estar na consciência de cada criança, em cada ser racional que está em processo de formação social, pois será dessa forma, as relações com o outro, a liberdade, fraternidade e a igualdade nutrirá a organização social se manterá em plena harmonia e bem-estar social, reverberando por muitas gerações, assim como projetou o iluminista Rousseau.

Imagem do Filme A Profecia dos Sapos


Concluindo esse sucinto Ponto de Vista, que foi criado a partir da sugestão do Filme “A Profecia dos Sapos” eu não consegui deixar de expor neste universo virtual, uma bela composição de palavras que harmonizam escritamente um admirável poema criado pelo Poeta Thiago de Mello[5], é incrível sentir como essa composição lança de modo leve, mas com agradáveis pitadas de profundidade o ideal Estatuto do Homem.

   ESTATUTO DO HOMEM
   (Ato Institucional Permanente)
 
                                          A Carlos Heitor Cony
 
    Artigo I
 
   Fica decretado que agora vale a verdade.
   agora vale a vida,
   e de mãos dadas,
   marcharemos todos pela vida verdadeira.
 
 
   Artigo II
   Fica decretado que todos os dias da semana,
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
 
   Artigo III
 
   Fica decretado que, a partir deste instante,
   haverá girassóis em todas as janelas,
   que os girassóis terão direito
   a abrir-se dentro da sombra;
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
   abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
 
   Artigo IV
 
   Fica decretado que o homem
   não precisará nunca mais
   duvidar do homem.
   Que o homem confiará no homem
   como a palmeira confia no vento,
   como o vento confia no ar,
   como o ar confia no campo azul do céu.
 
           Parágrafo único:
 
           O homem, confiará no homem
           como um menino confia em outro menino.
 
 
   Artigo V
 
   Fica decretado que os homens
   estão livres do jugo da mentira.
   Nunca mais será preciso usar
   a couraça do silêncio
   nem a armadura de palavras.
   O homem se sentará à mesa
   com seu olhar limpo
   porque a verdade passará a ser servida
   antes da sobremesa.
 
 
   Artigo VI
 
   Fica estabelecida, durante dez séculos,
   a prática sonhada pelo profeta Isaías,
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
 
 
   Artigo VII
   Por decreto irrevogável fica estabelecido
   o reinado permanente da justiça e da claridade,
   e a alegria será uma bandeira generosa
   para sempre desfraldada na alma do povo.
 
 
   Artigo VIII
 
   Fica decretado que a maior dor
   sempre foi e será sempre
   não poder dar-se amor a quem se ama
   e saber que é a água
   que dá à planta o milagre da flor.
 
 
   Artigo IX
   Fica permitido que o pão de cada dia
   tenha no homem o sinal de seu suor.
   Mas que sobretudo tenha
   sempre o quente sabor da ternura.
 
 
   Artigo X
   Fica permitido a qualquer pessoa,
   qualquer hora da vida,
   o uso do traje branco.
 
 
   Artigo XI
 
   Fica decretado, por definição,
   que o homem é um animal que ama
   e que por isso é belo,
   muito mais belo que a estrela da manhã.
 
 
   Artigo XII
 
   Decreta-se que nada será obrigado
   nem proibido,
   tudo será permitido,
   inclusive brincar com os rinocerontes
   e caminhar pelas tardes
   com uma imensa begônia na lapela.
 
           Parágrafo único:
 
           Só uma coisa fica proibida:
           amar sem amor.
 
 
   Artigo XIII
 
   Fica decretado que o dinheiro
   não poderá nunca mais comprar
   o sol das manhãs vindouras.
   Expulso do grande baú do medo,
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
   para defender o direito de cantar
   e a festa do dia que chegou.
 
 
   Artigo Final.
 
   Fica proibido o uso da palavra liberdade,
   a qual será suprimida dos dicionários
   e do pântano enganoso das bocas.
   A partir deste instante
   a liberdade será algo vivo e transparente
   como um fogo ou um rio,
   e a sua morada será sempre
   o coração do homem.
  Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964


[1] Gallo. Sílvio. Ética e cidadania, caminhos da filosofia. 11ª ed. – Campinas, São Paulo: Papirus, 2003.
[2] Diretor francês de longa-metragem de animação, Girerd foi o fundador do estúdio Folimage situada em Valence na França.
[3] Ver Anexo II
[4] Fonte extraída do site da Secretaria dos Transportes Metropolitanos – STM.
[5] Poeta brasileiro engajado na luta pelos Direitos Humanos, nascido em 30 de Março de 1921 no Estado do Amazonas.