sábado, 17 de dezembro de 2011

Morte Subjetiva

"Dizem que você morre três vezes.
Primeiro quando seu coração para.
Segundo quando você é enterrado ou cremado e,
terceiro, quando alguém diz seu nome pela última vez."
                                                                       Laurie Anderson1.

É conveniente percebermos o quanto a consciência de Morte é finada na  maioria das vidas dos homens contemporâneos, pouco se fala sobre esse fenômeno tão natural na existência de um ser, parece até um tabu, mas não é. Eu cresci convivendo (através de filmes e livros) com os contos de fadas, o mais incrível desses contos é que a história se concluía com um narrador possuidor de uma grave voz masculina (isso nos filmes) jurando “e eles viveram felizes para sempre”, essa frase sempre me causou certo estranhamento, mas ao mesmo tempo um conforto. Um dia eu cresci, e percebi que essa premissa perante a lógica racional estava totalmente invalida, (Todo Homem é Mortal. Nós Somos Homens. Logo, Nós Somos Mortais.) percebi que fui enganado a minha infância inteira, percebi que todo conto, todo livro tem um fim, também percebi que o longa-metragem infantil sempre terminava assegurando algo eterno. Pois é, através dessas observações é sensato afirmar que não é da natureza do Homem viver feliz para sempre, porque a eternidade não existe, o homem não é eterno, ele nasce, cresce, frustra-se, se angústia e morre, e o curioso é que ao morrer o falecido lança para os seus entes que ainda permanecem vivos os sentimentos de angústia, tristeza, choro, entre outras emoções por não aceitarem a morte do outro.
É muito atraente pensar que a Morte é um fenômeno natural, mas a nossa atual sociedade que se julga tão contemporânea parece não encará-la como um acontecimento tão natural assim, o curioso é, quando se toca nesse assunto é normal brotar um misterioso arrepio que vem lá do fundo de nossa alma e traspassa para a nossa pele causando pequenos frêmitos, quando temos que ir a um velório ou enterro então, nem se fale (principalmente quando assistimos os sofrimentos angustiantes dos entes queridos do morto). É difícil reconhecer, mas nós estamos morrendo aos poucos, nas já nascemos com a morte e raras pessoas possuem essa consciência, se cada um tivesse a impressão de que está morrendo aos poucos e que a idade na verdade não são contados em ordem crescente e sim em decrescente para esse fenômeno tão natural, as pessoas talvez vivessem as suas vidas com mais prazer e exatidão.
 É através dessas observações que é fascinante, resgatar para essa reflexão na famosa frase do francês René Descartes, “Penso, Logo Existo” é interessante compreendermos essa afirmação no processo social de morte, segundo Descartes o homem só existe enquanto pensa, se o mesmo não pensa, ele não existe, ou seja, é um sujeito morto, pensando a partir dessa perspectiva, quando uma pessoa morre, ela não tem a consciência de que morreu, porque não pensa mais, o fato é quem possui a consciência de morte é quem ainda está vivo, este ser que ainda continua pensando passa a ser o responsável pela morte do outro, porque ele terá que matar a existência daquele que se foi da sua subjetividade, é por isso que as pessoas sofrem tanto, enquanto o ente querido, que faleceu se encontra levemente deitado em seu sono profundo, com um suave sorriso exposto em seu rosto, o vivo que está velando pelo seu corpo sofre, grita chora e até atinge o desmaio, isso acontece porque somos nós que ainda estamos vivos que matamos o outro, temos que matar a ideia de que o outro está vivo da nossa consciência e passar a conviver com a ideia de que ele está morto, é denso, triste, mas é um acontecimento natural, somos todos assassinos, nós é quem matamos o outro, quando a artista Laurie Anderson afirma que nós morremos três vezes e que na terceira e última morte é completada quando alguém diz o nosso nome pela última vez, ela está assegurando este ponto de vista, ou seja, é o outro quem nos mata quando não estamos mais presente em sua oração e principalmente em sua consciência. Entrei neste argumento porque na vida, temos grandes e permanentes oscilações, momentos felizes, tristes, e um dia tudo isso termina, porque não somos seres eternos, não somos indestrutíveis, estamos morrendo aos poucos, sumindo regressivamente acompanhado com a Sra. Morte. É ai que eu me questiono, como um ser desse pode ser feliz para sempre?!

A Morte. Desenho do Alemão Thornsten Kohnhorst, é como uma sombra que sempre acompanha o homem.

1Enunciado exposto na exposição I in U / Eu em Tu” de Laurie Anderson. Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo. Data 12 de outubro a 26 de dezembro de 2011.

Referências:

Filme - MAR ADENTRO de Alejandro Amenábar.
Livro - Dias Contados - Contos Sobre o Fim do Mundo (Vários Autores).
Livro - FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004 il.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Intervenção Urbana

A intervenção urbana é uma manifestação artística que usa o espaço cotidiano social como alvo de reivindicações a partir de singelas e importantes perceptivas sobre a realidade. Esse tipo de ato artístico não possui um objetivo finalista, ou seja, um retorno que apresente se atividade foi positivo ou não, pois o estilo (se é que podemos considerar um estilo) desta intervenção urbana é semelhante ao dadaísmo, por não haver um resultado e sim, um lançar para a massa um olhar reflexivo e crítico sobre a realidade no qual estão os sujeitos alvos estão inseridos. É um ato que pede um momento para uma reflexão necessária sobre o mundo em que vivemos hoje.
Aqui no Brasil existem alguns grupos que já fazem esse tipo de intervenção, podemos encontrar uma dessas intervenções nas estações do metrô de São Paulo, são poemas que convidam os passageiros a saírem da correria angustiante à viajarem sobre as palavras que arquitetam uma poética subjetiva que, sempre está relacionada ao próprio sujeito que lê atenciosamente, produzindo nesse indivíduo uma breve e passageira reflexão criando um novo olhar (mesmo que momentâneo). É através dessa intervenção apresentada que foi pensando em uma ação urbana dentro da estação Sé do metrô paulista, como em algumas estações existem um convite a um olhar para dentro, ou seja, um navegar poético sobre as mais variadas sensações oferecidas pelos poemas expostos nas paredes escuras, frias e úmidas, o objetivo desta intervenção urbana será em lançar para a massa de passageiros das 18h da estação de metrô Sé o acesso ao olhar externo e interno, ao movimento do rosto, do pescoço causado pela chuva de Bolhas de sabão constituída por matizes de cores de infância, adolescência, maturidade, velhice, de vida.
A Bolha de São, que fez e faz parte de tanta infância singela, este elemento será lançado sobre a multidão de trabalhadores, estudantes, passageiros que voltam para casa ou que estão à caminho da faculdade para construir as suas vidas, mas que estão totalmente estressados e cansados inconscientemente (ou não) do sistema que fazem parte, por este motivo será proposto esta intervenção, pelo fato de que as Bolhas de sabão possuem o poder de oferecer um sentimento singelo e nostálgico e a escolha da Estação da Sé como ponto de reflexão é totalmente importante por capacitar em horário de pico 100 mil passageiros, passageiros que pensam, choram, gritam e sofrem por estarem envoltos de muitas pessoas, mas ao mesmo tempo sozinhos subjetivamente, por este motivo se faz necessária a prática ativa desta intervenção urbana tão linda e cheia de graça nostálgica. O acesso ao resultado da intervenção como foi dito não será possível justamente por não existir um resultado coletivo e sim pessoal, a finalidade da atividade é um parar para a troca de boas lembranças e através disso perceber que podemos sim compartilhar através do diálogo, da troca de olhares, sorrisos, gracejos tudo aquilo que temos guardado dentro da nossa memória, utilizar o espaço social não só como uma ponte de passagem, mas um local onde seja possível a compartilha de trocas e principalmente de amizades, contato com o outro, mesmo que passageiras.
Justificativa Reforçada 
A justificativa foi muito bem lançada poeticamente pela Educadora Annelise Faria, e será através dessa justificativa que atingiremos o objetivo desta admirável e necessária intervenção urbana.
Triste não é trabalhar todos os dias.
Triste não é pegar o metrô lotado e ainda chegar tarde ao trabalho.
Triste não é esbarrar em mendigos no centro da cidade de São Paulo.
Triste não é se sentir sozinho, mesmo com tanta gente a nossa volta.
Triste não é a ausência do trabalho.
Triste é ser bolha de sabão.
Tão linda...
Enche os olhos da gente de alegria.
Mas quanto tempo dura uma bolha de sabão?
Somente o feliz tempo de uma curta existência!
Annelise Faria
As relações que temos na cidade nos constrói e devemos dar um retorno à ela. Alegrar qualquer triste... Imagina uma mulher triste, que acaba de ser deixada pelo marido, tomou uma bronca do chefe porque chegou atrasada no trabalho. Mesmo ela querendo que a vida desse uma simples pausa, a vida não lhe deu... Triste esperando o ônibus passar, ela olha para frente e vê lindas bolhas de sabão... Coloridas. Se lembrar da sua infância, lembrar da infância pode ser uma doçura... Ver bolhas de sabão pode ser uma doçura.

Material
·         Brinquedo que produz Bolhas de Sabão.
·          Sopro.
·          Câmera Fotográfica, Filmadora para o registro e documentação da Intervenção.
      ·          Sensíveis Seres Racionais.

Texto: André Bispo e Annelise Faria.
Ideia Original: Annelise Faria.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Homem

Homem é Átomo
Homem é Substância
Homem é Neném
Homem é Criança
Homem é Jovem
Homem é Adulto
Homem é Velho
Homem é Vida
Homem é Morte
Homem é Arte
Homem é Belo
Homem é Feio
Homem é Trabalho
Nao! Homem dá Trabalho.
Por quê?
Porque Homem é Pensamento
Homem é Sexo
Homem quer Sexo!
Homem é Paixão
Homem é Amor
Homem é Prazer
Homem é Ódio
Homem é Deus
Não! Homem Cria Deus.
Homem é Diabo
Homem é Bom
Homem é Mau
Homem é Consciência.
Homem é Angústia
Homem é Tudo
Homem é Nada
Homem é Homem
E Mulher é Mulher!

André Bispo

A Dança na Casa das Minas de Thoya Jarina

 

Este vídeo foi produzido em um dia muito especial, parte desse dia foi vivenciado em um terreiro urbano gentilmente conhecido como Casa das Minas de Thoya Jarina, este terreiro foi fundado em 1977 por Toy Vodunnon Francelino do Shapanan e está localizado no município de Diadema, zona sul do estado de São Paulo. Este terreiro urbano afro-brasileiro possui em suas práticas raízes da tradição maranhense, pratica o culto do tambor de mina.
A Casa promove trabalhos de difusão cultural, entre outros como seminários, encontros, oficinas de artesanato e exposições, e o interessante é a possibilidade, (para quem tiver vontade) de reservar um momento para uma prosa com a Mãe Sandra de Xadantã.

André Bispo

Companhia Singular

Um dia eu percebi que não sou Sozinho, que não estou sozinho
Nunca estarei Sozinho, seja na vida ou na morte.
Afianço isso porque foi ela quem me disse.
Ela é muito generosa comigo, porque sempre que possível me oferece inspiração para escrever, para escutar música e até me lançar em um momento de introspecção.
Às vezes, essa apática companhia também me oferece lágrimas, tristezas, profundas angústias; mas sinto que é para o meu próprio bem, afinal de contas, eu estou com ela, ela é minha, ela sou eu.
Ela sempre vai ao cinema comigo, não opina, não fala, sempre em silêncio.
Nós até já viajamos juntos, gostei da singela e silenciosa companhia, refletimos, conhecemos e até mergulhamos juntos na praia de Copacabana.
Foi através dessas observações que eu percebi que, por mais que eu esteja acompanhado com muitas outras pessoas, eu sempre estarei com ela, nós formamos o Singular.
E essa companhia tão presente e Singular se chama Solidão.
A Solidão sou eu, somo nós, estamos todos sós.

André Bispo

  Jean Jacques Henner - Solidão

No Botequim

— Boa tarde!
— Boa tarde, tudo bem?
— Sim tudo, o que o Senhor deseja?!
— Eu anseio um Licor, mas tem de ser um Licor Profano detentor de três cubos Sacros. Um Licor que me ofereça um gostinho de vida, mas com uma sensação de morte e devaneios, você me entende meu rapaz?
—Sim, sim claro Senhor!
— Pois bem meu Garçom, por favor, me sirva uma dose generosa e bem esmerada daquele Licor de Êxtase, mas não se esqueça das três formidáveis gotas de fascinação.

André Bispo

Êxtase de Santa Teresa de Gian Lorenzo Bernini(1598-1680).